Um dos conceitos mais comuns e importantes da arquitetura moderna é o de planta livre. Ele é um dos Cinco pontos da Nova Arquitetura concebidos pelo arquiteto suíço Charles-Edouard Jeanneret-Gris, mais conhecido pelo pseudônimo de Le Corbusier.
Os cincos pontos foram publicados originalmente na revista francesa L’Esprit Nouveau, 1926. O conceito de planta livre estabelece que os elementos de separação entre ambientes são independentes da estrutura. Ou seja, as paredes podem ser derrubadas e reconstruídas para refazer a configuração do espaço e isso não terá influência na estrutura de sustentação.
Além de planta livre, os outros pontos da Nova Arquitetura são Fachada Livre, Pilotis, Terraço Jardim e Janelas em Fita.
Com os grandes centros urbanos oferecendo espaços cada vez mais limitados, o conceito passou a ser aplicado como uma forma de oferecer mais liberdade e sensação de espaço a novos empreendimentos.
Assim, alguns empreendimentos modernos, sejam edifícios comerciais ou residenciais, passaram a minimizar o uso de paredes em suas estruturas para otimizar o aproveitamento do espaço, além de trazer benefícios na iluminação e na climatização, com melhor circulação de ar.
Mas como executar um ambiente desses moldes? É isso que veremos agora.
Executando ambientes de planta livre
Basicamente, um ambiente de planta livre é um projeto de engenharia/arquitetura que vence grandes vãos livres. O objetivo é eliminar ao máximo as estruturas de sustentação, proporcionando ambientes abertos e abundantes espaços com o mínimo de interferências físicas.
Vencer vãos é um desafio de longa data da engenharia. Para criar estruturas com tais grandes vãos, é necessário vencer algumas barreiras técnicas. Assim, tornou-se essencial criar edifícios resistentes à flexão e com menor peso de construção.
Considerando obras de engenharia civil com foco na ocupação humana, os sistemas produtivos que focam em edifícios mais leves ganharam cada vez mais espaço no mercado.
Nesse cenário, o uso da laje nervurada se destaca como um modelo de alta economia de materiais, notoriamente aço e concreto, reduzindo custos e peso do projeto. A redução pode chegar em 40% do consumo de materiais. O uso de madeira na montagem é praticamente anulado, já que as fôrmas podem ser autoportantes.
Se a laje garante a leveza estrutural, ainda há a questão da flexão para lidar. Nesse caso, pode-se utilizar eventuais pilares de apoio. Na região de instalação do pilar, a laje deve ser maciça, absorvendo momentos negativos, com resistência ao efeito de puncionamento. Essa estrutura de pilar com região de laje maciça é conhecida como laje cogumelo.
Essas são algumas das técnicas utilizadas por engenheiros e arquitetos para criar empreendimentos de vãos abertos.
Com essa introdução técnica, vamos explorar um icônico projeto brasileiro concebido no conceito arquitetônico de planta livre que usou a soluções apresentadas.
Edifício Amélia Telles 315
O edifício residencial Amélia Telles 315, localizado no moderno bairro de Petrópolis, em Porto Alegre (RS), traz oito apartamentos com pouco mais de 100 metros quadrados. Toda a estrutura do prédio foi desenvolvida em planta livre. Isso é visível desde o estacionamento aos apartamentos, criados pelo escritório Smart Arquitetura justamente para possibilitar diferentes configurações de cômodos.
“A planta é livre, flexível e sem vigas, com lajes nervuradas aparentes que permitem personalizar e adaptar o layout a gosto do morador”, detalha Ricardo Ruschel, um dos arquitetos responsáveis pelo projeto.
Cada unidade conta com um grande vão livre, destacado pela esquadria principal de 9,4 metros de largura, com abertura de dois terços do vão, sem paredes ou vigas. Os apartamentos têm escassas pilastras, o que permite que cada morador defina os tipos e divisões de ambiente ao seu próprio gosto.
Isso abre um grande leque de possibilidades para arquitetos, designers de ambiente e decoradores. Dependendo do projeto, um apartamento pode ter cozinha fechada, americana, em ilha ou estilo gourmet, para citar apenas um dos ambientes que podem ser explorados de forma diferente.
O uso da laje nervurada aparente, com fôrmas de polipropileno desenvolvidas pela Atex Brasil, nos apartamentos e nas áreas comuns do Amélia Telles, oferece bom desempenho acústico, que é otimizado no projeto com a manta acústica entre a laje e o contrapiso e os vidros de 6mm instalados nas esquadrias.