Aqui no Blog da Atex, abordamos não só as técnicas que podem otimizar e modernizar as estruturas de concreto armado. Também voltamos nossas atenções para o uso do concreto como elemento de design na arquitetura. Contudo, ele não é exclusivo da simples aplicação da forma aparente do material. Há também novidades incríveis como o concreto translúcido.
E dessa forma, após falar de suas versões de ultra alta-resistência, auto regenerativa e sustentável, vamos conhecer mais um moderno uso do material.
Concreto translúcido
O conceito do material não é exatamente novo, mas a aplicação da empresa alemã Heidelberg Cement – a quarta maior cimenteira do mundo – foi inédita para a indústria. O método até então tradicional de aplicar a tecnologia envolvia o uso de hastes acrílicas ou fibras óticas na estrutura molecular do material. O trabalho projetado pela também alemã Luccon apresenta um tecido translúcido, montado camada por camada em um concreto de granulação fina para permitir que luz, sombras e cores sejam projetadas pelo material com mínima degradação.
O material é pré-moldado e produzido em um processo de inserção de fibra ótica em concreto de grão fino.
A solução pode ser usada em diversas superfícies, principalmente aquelas que envolvem transmissão de luz, podendo ser utilizadas para espaços particulares, espaços públicos e objetos em diferentes formatos e tamanhos.
Novas possibilidades
Se o concreto aparente se restringe a uma escolha por textura e ambientação, o light translucent concrete traz novas dimensões para o trabalho de arquitetos e designers de ambiente: luz e cor.
Esses elementos possibilitam novos usos para o concreto como elemento importante na composição de espaços, aplicando um aspecto sutil, mas impactante, na natureza do material. A aparência mantém a sensação de robustez, enquanto a translucidez dá uma nova leveza ao material.
Com a passagem de luz permitida por esse concreto, é possível até mesmo ver silhuetas do outro lado. As placas produzidas pela Luccon têm áreas de 1.500 x 1.000 mm ou 2.000 x 1.000 mm, com largura de 20 a 30 mm. Ou seja, no momento são mais voltadas para adornos, decoração e estruturas leves.
Já a LitraCon, empresa húngara responsável pelas primeiras implementações da tecnologia em 2001, consegue desenvolver blocos do material com largura de 25 a 200 mm, o que permite a implementação do concreto translúcido como base para estruturas mais pesadas.
A solução viabilizada pela Luccon ainda possibilita controlar a posição das fibras e o nível de transparência durante o processo produtivo. Isso pode impactar diretamente na estética final, possibilitando um grande potencial para o uso de marcas, que podem implantar suas identidades visuais no concreto.
Resistência do material
Mesmo com a novidade estrutural, o concreto translúcido segue sendo um material de alto desempenho. A resistência é garantida pela relativa baixa quantidade de fibras, que gera impacto mínimo em relação à força e durabilidade.
Com uso de material resistente a água, de baixa abertura, as placas de concreto podem ser usadas em ambientes expostos a umidade. Poros de ar são formados na produção do material, permitindo a saída de água em locais com risco de congelamento, assegurando a vazão do líquido e garantindo que o processo não gere fissuras internas.
O concreto translúcido também apresenta maior resistência ao fogo, similar ao concreto comum. O processo de cura é semelhante, apresentando uma densidade de 2.100 kg/m³.
A composição desse concreto, de alta densidade, inclui areia de quartzo, cimento, água e agregados.
Potencial sustentável
Ao mesmo tempo em que o material traz uma nova estética para ser explorada por profissionais da arquitetura, suas propriedades podem ser importantes para as buscas da engenharia por soluções mais sustentáveis.
Uma placa de concreto translúcido permite a passagem de cerca de 70% da luz. Esse fator torna um ambiente mais sustentável, já que os gastos de iluminação de uma casa correspondem a cerca de 45% do consumo energético. Assim, o concreto translúcido é um material que converge com o conceito de smartbuilding.
Há também os ganhos indiretos, já que estruturas puras de concreto evitam o uso de materiais como tintas e gesso, que liberam CO2 em seus processos produtivos.
A presença da fibra ótica ainda previne a proliferação de fungos, já que o material no interior do concreto translúcido permite propriedades fungicidas.
Custos ainda proibitivos
Como esperado em novos tipos de materiais, os custos ainda são elevados, o que torna o material inviável para a realidade de países com câmbio desfavorável, como o caso do Brasil. Segundo o portal Construction World, o preço de uma placa de um metro quadrado com 25 mm de espessura do concreto da LitraCon custa €1.000 em 2015 (mais de R$ 4 mil no câmbio de 29/10/2018).
Para comparação, um metro cúbico de concreto usinado custa entre R$ 250 e R$ 350.
Os valores consideram apenas a preço do material, sem levar em conta o custo da mão de obra, consequentemente escassa no Brasil. Pela rara implantação, o concreto se quer foi reconhecido pelas normas nacionais. Assim, sua utilização fica restrita a funções decorativas.
Concreto Translúcido no Brasil
Os custos podem ser inviáveis no Brasil, mas isso não impediu que a técnica tenha sido estudada no meio acadêmico.Para Bernardo Tutikian, professor coordenador do Instituto Tecnológico de Desempenho para Construção Civil (itt Performance) da Unisinos-RS, faltam empresas para implementar a tecnologia e levá-la ao mercado.
Tutikian explica que o uso das fibras óticas, instaladas de uma extremidade à outra, é o que torna o concreto translúcido, promovendo a passagem de luz. Para o pesquisador, não existe restrição ao tipo de concreto a ser colocado na fôrma, mas que o autoadensável foi o mais comum.
No Concrete Show de 2017, Tutikian apontou que o custo do m³ no Brasil girava em torno de R$ 2.400. A fibra ótica atualmente custa cerca de R$ 1,00 por metro, o que gerou uma grande queda no valor da produção. “O que ainda encarece é a mão de obra, já que o concreto translúcido segue produzido de maneira artesanal”, destacou o pesquisador que pesquisa o material desde 2009.
Essa queda de custo ainda não se reverteu em mais aplicações do material. Contudo, pode ser vital para que tanto a academia, como arquitetos e construtoras viabilizem novos projetos.