Em nosso passeio pelo mundo, chegamos à charmosa capital belga Bruxelas. Se em outras ocasiões visitamos projetos suntuosos e imponentes, como Aeroporto Internacional Chhatrapati Shivaji, na Índia, o subsolo da pirâmide do Louvre, na França, ou o Metropol Parasol, na Espanha, dessa vez veremos um projeto que abusa da simplicidade, mas sem abrir mão da criatividade.
O projeto é de autoria do escritório BAUKUNST, criado em 2008 na própria capital da Bélgica. Trata-se de um espaço público em uma antiga fábrica no município de Molenbeek-St-Jean que ganhou novas linhas com um trabalho cheio de sutilezas. O paisagismo foi concebido pelo estúdio Landinzicht.
Conhecendo o projeto
O projeto tem autoria de Adrien Verschuere, fundador do BAUKUNST, Benoît Delpierre, Fabian Maricq. O escritório já se destacou por seus projetos em espaços públicos, sendo premiados no Urban Public Space 2017.
Um dos destaques da construção é sua posição em uma área tomada por construções industriais em Bruxelas. A região de Molenbeek-St-Jean se destaca na cidade justamente pela presença densa da natureza, mas com a falta de construções marcantes ou icônicas.
Nos últimos anos, Bruxelas tem buscado otimizar o uso dos espaços intersticiais como forma não somente em esforços estéticos de arquitetura e paisagismo, mas também para racionalizar as ocupações urbanas.
Os espaços entre os prédios tradicionalmente tinham pouco proveito, o que acabava por caracterizar um mau uso do espaço público, com desperdício de áreas urbanas. É o caso do Structure and Gardens!
A área do projeto inclui um pátio de um quarteirão na Rua des Quatre-Vents, um espaço residual na parte de trás de uma escola pública, uma igreja e um prédio residencial. A ideia é justamente transformar áreas desaproveitadas em jardins de convívio aconchegantes. Por existir inúmeras áreas do tipo, tem-se a possibilidade de criar vários núcleos de espaços verdes de convívio em meio urbano.
Nesse contexto, em 2009 o conselho de municipal de Molenbeek-Saint-Jean e o governo da região metropolitana incluiu no plano geral a recuperação do pátio da Quatre-Vents. O projeto foi finalizado em 2016.
Como apontamos para a simplicidade da construção, a ideia era que a área do jardim, já existente, ganhasse um teto para proteger os visitantes das constantes chuvas de Bruxelas e assim atrair mais pessoas.
E a laje nervurada?
Sem paredes, o Structure and Garden é um teto sustentado em quatro pilastras posicionadas no centro de cada uma das laterais de 15 metros de comprimento. Com um pé direito elevado, a estrutura garante proteção e tranquilidade, enquanto mantem um ambiente arejado e iluminado.
Para ter uma estrutura leve nessa cobertura construída, foi optado por uma solução de laje nervurada. Isso possibilitou o grande vão livre, tendo como estruturas de apoio apenas os quatro pilares laterais.
O grande recurso estilístico da laje são suas três aberturas, utilizadas estrategicamente para permitir a passagem de árvores que estão enraizadas sob a área coberta. As aberturas foram calculadas com base no número de fôrmas utilizadas. A menor é uma vazão de uma fôrma, a segunda em uma proporção 2×2 e a maior um quadrado 3×3.
Assim, a estrutura é essencialmente simples: uma área coberta, com laterais abertas, sustentada em quatro pilares. São as sutilezas que fazem a diferença, no caso, a posição dos suportes e as áreas abertas para passagem das árvores.
Assim, a estrutura se tornou um centro de estar público, como era a intenção dos realizadores, dando lugar a reuniões de moradores, shows, oficinas infantis, churrascos, peças de teatro e mostras de cinemas.