O concreto é um assunto muito presente no Blog da Atex, e por motivos óbvios. Mas hoje, vamos abordar o material de forma diferente. Nas últimas décadas, sua presença ganhou força como recurso estilístico para arquitetos e designers de interiores. Uma série de linhas da arquitetura e da decoração abusam do concreto aparente e, no artigo de hoje, vamos conhecer um pouco mais sobre elas.
Mas antes, cabe definir alguns conceitos!
Diferença entre decoração e arquitetura
É comum haver confusão nas atribuições das funções de arquitetura e decoração. Alguns nomes para designar estilos das duas áreas são iguais, mas não necessariamente representam a mesma corrente estética, por exemplo. Falaremos mais sobre isso adiante, mas agora falaremos sobre as diferenças das duas áreas.
A arquitetura é a área que transita do estudo de construção, materiais e engenharias variadas a história da arte, planejamento urbano, paisagismo e desenho técnico. O arquiteto atua desde a concepção inicial de um projeto, na escolha do terreno.
O arquiteto planeja ambientes, define cômodos, acessos, entrada de luz e de ar e define materiais. E é claro, as linhas externas de um edifício também são obra do arquiteto. Quando falamos de estilo arquitetônico, geralmente nos referimos às características comuns em obras de uma mesma época ou região, mais especificamente das áreas externas dos projetos.
Já o design de interiores é a área de atuação dedicada a definir os elementos que dão função e estética dentro de uma construção. O profissional da área elabora a decoração, levando em conta ergonomia, acústica, desempenho térmico, entrada de luz e circulação de ar.
O ambiente interno é definido (ou recriado) com esse trabalho. O desenvolvimento de um layout pode ampliar ou reduzir espaço, criar sensações por meio de texturas, volume, nuances, unindo estilo e utilidade. O designer de interiores poderá escolher ou criar móveis e definir o tipo de iluminação de cada cômodo, seja comercial, residencial ou contemplativo.
Estilos de arquitetura e decoração
Todas essas diferenças podem ser identificadas já no nome. Design de interiores se limita ao trabalho no ambiente interno do projeto, enquanto o arquiteto define também as linhas e estéticas externas.
É sempre importante ressaltar que designers de interiores ou decoradores não podem executar mudanças estruturais sem o aval de um profissional da arquitetura ou engenharia civil.
Vamos conhecer agora importantes estilos de arquitetura e decoração que valorizam o concreto aparente.
Decoração – Vintage
O estilo de decoração vintage (ou retrô) faz referência ao apelo visual das décadas de 1950 e 1970, principalmente de cidades como Nova York e Paris.
O estilo permite a mescla de formas e materiais que unam função e estética. No âmbito das texturas, o vintage dá espaço para plástico, vinil, veludo, além de estampas xadrez e florais, por exemplo.
Nesse contexto, o concreto aparente ganha espaço. Como o estilo abriga nuances de laranja e amarelo, por exemplo, cores muito características, é importante a presença de um tom neutro para equilibrar a coloração. E esse aspecto sério do concreto proporciona uma mistura perfeita.
Utilizando elementos clássicos para remeter ao passado, a mobília vintage dá preferência a objetos longos, com linhas simples e superfícies lisas, com brilho. Tudo isso é ornado com quadros e ilustrações que remetem a temáticas hollywoodianas.
Decoração Contemporânea
Se você acha que o aspecto “cru” do concreto não favorece ambientes modernos, talvez seja melhor pensar de novo. A decoração contemporânea surgiu como tendência na segunda metade do século XX valorizando traços simples, com ambientes espaçosos e funcionais.
O favorecimento de elementos neutros dá espaço para que a textura do concreto seja explorada nessa estética. Assim, materiais brutos dialogam tranquilamente com outros mais modernos, em cores leves como branco, cinza ou prata, geralmente relacionadas a dispositivos tecnológicos. Cores mais marcantes geralmente marcam mais presença em detalhes.
O estilo geralmente presa por uma decoração prática, minimalista, com poucas peças gerando a personalidade do ambiente. A mobília contemporânea geralmente tem estrutura rente ao chão, com peças espaçosas e superfícies lisas e suaves.
INC Style ou Estilo Industrial
Já velho conhecido aqui do blog, a decoração de estilo industrial surgiu nos anos 1970, quando a desindustrialização da economia americana fez com que espaços industriais de Nova York dessem lugar a residências e instalações artísticas.
O estilo industrial valoriza espaços com estrutura aparente. Isso ajudou na popularização das texturas de tijolos, madeiras, metais, tubulações e também do concreto. Talvez tenha sido o INC Style o percursor das lajes nervuradas como um elemento estético em ambientes internos.
A decoração industrial se contrapõe aos estilos mais clássicos, reaproveitando materiais e se afastando de peças e formas delicadas. O objetivo é um ambiente cru, espaçoso, simples, mas com estilo marcante.
As texturas geram um espaço mais rústico que “clean”, mas ainda assim o estilo casa com peças tecnológicas, em especial os aparelhos com superfície em aço escovado.
O estilo valoriza não só o concreto, como toda estrutura aparente. Então, é comum tubulações e fiações expostas – que ainda podem ser organizadas em canaletas.
Arquitetura modernista e as escola de Bauhaus
O movimento do modernismo teve seu grande destaque em 1922, na histórica Semana de Arte Moderna. Influenciados pela tradicional escola de design alemã Bauhaus, vários setores artísticos se impactaram pelo movimento, e não foi diferente com a arquitetura.
Dois elementos se destacaram na arquitetura modernista: as linhas curvas, eternizadas por Oscar Niemeyer, e a valorização do concreto aparente surgindo no Brasil.
O modernismo buscava projetos com foco funcional e racional, com formas geométricas bem definidas, sem ornamentos excessivos, panos de vidros contínuos nas fachadas dos edifícios, integrando-o com o paisagismo do entorno. O objetivo era chegar a construções leves, em contraposição da imponência visual das obras da Alemanha Nazista, por exemplo.
A escola de Bauhaus influenciou a arquitetura, design e estética do século XX, com uma maior apreciação da funcionalidade e no estudo de problemas do dia a dia por meio de soluções estruturais.
Arquitetura Brutalista
O Brutalismo é um movimento arquitetônico que surgiu na década 1950 como sequência do modernismo. Suas obras têm uma estética rígida, monolítica, com formas geométricas muito bem definidas.
O concreto é um elemento central, já que o próprio termo vem do francês “Béton Brut” (concreto bruto em tradução livre). O estilo foi muito utilizado em prédios públicos, sedes de governo e universidades.
Linhas retas, materiais pesados e acabamento rústico, janelas pequenas são elementos comuns do estilo. Além do concreto, outros materiais são recorrentes na estrutura, como tijolões, aço e pedra bruta.
Um exemplo clássico do estilo brutalista é o teatro Queen Elizabeth Hall, em Londres.
Arquitetura Contemporânea
Em toda área de estudo artístico é difícil definir o que é contemporâneo. Ainda assim, podemos definir a arquitetura contemporânea como o receptáculo dos principais movimentos que marcaram a área no século XX.
E com influências diretas da escola de Bauhaus, do modernismo brasileiro e outros movimentos recentes, a arquitetura contemporânea reafirma o princípio de forma segue a função.
O SESC Pompeia de São Paulo, obra de 1977, é um dos principais exemplos do estilo no Brasil.
Marcado pela presença de muitas formas geométricas assimétricas, assim como seus predecessores, o concreto aparente é um elemento comum nas obras do movimento contemporâneo.