Eficiência energética, aproveitamento da luz natural, circulação de ar, captação de água da chuva, reaproveitamento de materiais e geração de energia solar. Essas foram algumas das técnicas que tornaram o Centro Sebrae de Sustentabilidade, em Cuiabá (MT), vencedor do BREEAM Awards 2018 como melhor edifício sustentável das Américas.
O prêmio é realizado pela BRE Group, um grupo de pesquisadores, cientistas e engenheiros que trabalham com foco na certificação de projetos mais sustentáveis e ecologicamente corretos.
Além de receber o prêmio na região, o edifício também foi vencedor na votação aberta ao público.
Vamos conhecer mais detalhes sobre o CSS.
Conhecendo o projeto!
O projeto do Centro Sebrae de Sustentabilidade foi desenvolvido pelo arquiteto e urbanista José Portocarrero. Uma das principais inspirações para o projeto são as ocas indígenas, fato percebido nas formas circulares – mais precisamente, ogival – do teto. Portocarrero foi justamente convidado para o projeto por seus estudos sobre as habitações da etnia indígena bororo.
O CSS é referência nacional em sustentabilidade no Sistema Sebrae em todo o país. A atuação do Centro é totalmente focada na criação de conhecimento para difusão dos valores sustentáveis para empresários e empreendedores de todo o país.
Para manter a coerência entre espaço e função, a sede do Centro foi concebida para trazer diversas soluções sustentáveis para o ambiente.
O formato inspirado nas ocas, com diversas aberturas em sua superfície, otimizou o uso da iluminação natural, permitiu o resfriamento interno aproveitando a circulação de ar e a captação da água da chuva.
Eficiência energética
O Sebrae destaca em seu site que a energia elétrica usada em edifícios corresponde a 45% de todo o consumo do país. Por isso, o foco no uso da iluminação natural é tão presente. Todas as fachadas possuem vidros amplos para tornar o uso de luz artificial uma necessidade secundária.
Ainda assim, o prédio conta com lâmpadas de LED e luminárias individuais para cada mesa.
Para garantir ainda mais eficiência, em 2016 o Sebrae realizou a instalação de dois painéis de energia fotovoltaica: um no telhado da sede da instituição e outro no estacionamento, já na estrutura do CSS.
Elas proporcionam a produção de 120 kWp (quilowatt-pico), reduzindo o consumo da sede do Sebrae MT em 30% e tornando o Centro totalmente autossustentável, ou seja, um Zero Energy Building (ZEB, prédio zero energia).
O excedente de energia é encaminhado para a concessionária local, com o valor referente descontado na conta de luz. O valor da conta que era, em abril de 2016, R$ 5.229,60 (consumo de 7.052 kWh), a partir do mês seguinte caiu para R$ 80,36, a tarifa mínima local e uma economia de 98,5%.
Captação de água da chuva
O projeto arquitetônico de Portocarrero foi essencial para aproveitamento das águas de chuva pelo CSS.
O formato das telhas que remete às moradias indígenas conta com uma estrutura projetada para captar essa água. A telha conta com duas camadas (exterior e interior), com um espaçamento de 30 centímetros entre elas. Nesse espaço, a água da chuva não só é escoada para o reaproveitamento, como também cumpre função de resfriamento do prédio.
A água é conduzida por tubulações a uma filtragem e então a um reservatório com capacidade de até 16 mil litros. Essa água é utilizada nas bacias sanitárias e serviços de limpeza e manutenção de prédio e jardins, o que gera uma economia de até 50% de recurso pela unidade.
Laje nervurada e reaproveitamento de materiais
Em diversas dependências do CSS estão presentes estruturas com lajes nervuradas. Como o projeto do Centro foi desenvolvido pensando nas principais soluções de sustentabilidade, a técnica permitiu a economia de concreto e aço, além de gerar ambientes com grandes vãos abertos. Assim, otimizou-se também a circulação de ar e a entrada de iluminação natural.
O Sebrae lembra que 60% dos resíduos gerados em cidades têm origem na construção civil, e 70% desse total poderia ser reutilizado.
Com esse desafio, o Centro foi concebido para reaproveitar ao máximo os materiais usados na obra, como o piso construído com resíduos de marcenarias e os puffs feitos com câmaras de pneus.
Biodiversidade
Uma das preocupações do projeto era valorizar e preservar a biodiversidade local. O jardim do Centro conta com plantas nativas dos três grandes biomas presentes no Mato Grosso, Amazônia, Cerrado e Pantanal.
O prédio está em uma área de seis metros de aclive entre suas extremidades. A construção respeitou esse aspecto topográfico para evitar uma movimentação de terra da região. Isso possibilitou a construção de ambientes em subsolo, como um auditório em forma de meia arena para 100 pessoas.
Mais de 75% da área total do CSS tem cobertura vegetal, o que garante um grande espaço permeável, possibilitando abastecimento do lençol freático.
O espaço abriga 72 espécies da flora local, incluindo árvores, palmeiras e frutíferas. Elas foram posicionadas de forma estratégica, separando aquelas com diferentes necessidades de água e luz. O Centro também implantou um viveiro para garantir a reprodução de mudas de espécies da região.
Com a preservação dos biomas locais, o Centro Sebrae de Sustentabilidade se tornou um habitat da fauna local, com a presença de abrigos e ninhos de aves por toda a extensão do terreno.
Inaugurado em maio de 2011, o Centro já recebeu mais de 70 mil visitantes.